domingo, 8 de maio de 2011

A pior semana da minha vida

Bom gente. Tem coisas na vida que a gente nunca espera. Na sexta passada (29), uma dessas aconteceu comigo. Tudo corria como sempre.

Na hora do almoço, Marlon trouxe Helena, comemos, colocamos as três pequenas na cama e fomos ficar juntinhos. Temos sempre uns dez minutinhos para isso.

Depois, meu amor me deu um beijo, se despediu como sempre e quase que nunca mais volta para nós.

Por volta de umas 14:30, uma amiga me ligou dizendo que vinha com a irmã me ver. Achei estranho pois ela trabalha muito e normalmente não teria tempo mas, comecei a dar um jeito nas coisas.

Dez minutos mais tarde, uma outra amiga me ligou. Disse que eu ficasse calma que ela vinha me buscar e levar para o hospital pois o Marlon tinha sido baleado em um assalto.

O chão me faltou. Não havia como escolher uma roupa. Pegava duas calças, depois duas blusas. Por fim, botei qualquer roupa. Chamei uma vizinha e a Flávia trouxe Carol para ficar com as crianças.

Quando cheguei no hospital, vi o corredor cheio de amigos e percebi que a coisa era pior do que eu pensava. A princípio me disseram que ele tinha sido baleado no ombro e pensei que não seria nada muito complicado. A cirurgia, na minha cabeça seria para extrair a bala, ou algo parecido.

Hoje já sei que o médico disse aos nossos amigos que dificilmente ele sobreviveria e que eles tinham me chamado para que eu me despedisse.

O tempo foi passando e somente quando já havia 4 horas de cirurgia, um cirurgião saiu da sala e começou a me explicar o que realmente ocorrera. Marlon perdera todo o sangue do corpo. Tinha tomado 10 bolsas de transfusão pois a veia cava fora atingida. Além disso, quebraram a costela dele pois a bala perfurou o pulmão, passando a um dedo do coração. Mas ele estava estável e outra equipe assumira para fazer a reconstrução do ombro.

Foram mais duas horas de cirurgia e o cirurgião vascular saiu da sala. Ele nos falou que foram arrebentados 5 cm da veia sub-clava que não foram reconstruídos pois eles acharam que ele não resistiria à operação. O resto estava no lugar e as possíveis sequelas iam da perda do braço à perda de movimentos total ou parcial.

Fiquei arrasada mas, pelo menos ele estava vivo. Quando ele saiu do centro cirurgico, estava branco como papel, com os lábios inchados pelo respirador e sedado ainda. Conseguiu abrir os olhos e olhar para mim. Lhe disse que estava ali e que esperava por ele quando ele ficasse bom. Eu e as meninas. Subi no elevador com ele e fui até a porta da UTI.

Depois que ele entrou, me deram uma lista dos itens de higiene pessoal que ele precisava. Fui à farmácia ao lado do hospital e levei tudo na UTI. Depois, pedi que me levassem para casa para ver minhas filhas. Tinha que amamentar as gêmeas. Chegando em casa, amigas e vizinhas tinham cuidado das meninas para mim. A casa acalmou mas eu não dormia. Fui para a rua caminhar. De dois em dois minutos eu tinha uma crise de choro. Era uma sensação de solidão horrível. Meu companheiro não estava comigo e eu não podia estar com ele. Minha vontade era de estar sentada na porta da UTI e acho que eu teria feito isso se não tivesse que amamentar minhas filhas.

No dia seguinte pedi a um amigo que me levasse até o hospital para que eu tivesse notícias. Todo o tempo eu pensava em como seria minha vida se o Marlon não resistisse. Minhas três filhas não teriam pai. Eu iria embora de Cuiabá? Para onde? Fazer o que? O amor da minha vida poderia nunca mais se deitar ao me lado. Nunca mais beijar as filhas. E eu nem tinha tido chance de me despedir.

Quando cheguei no hospital, encontrei outro amigo. Eles tinham se revezado a noite toda na porta da UTI. Um médico amigo nosso apareceu e entrou lá para ter notícias. Marlon estava estável mas continuava correndo risco. Se recuperava bem mas, ainda não estava fora de perigo. Eu só poderia vê-lo no final da tarde. Fui para casa e, por mais que deitasse, não conseguia tirar da cabeça a imagem dele sendo baleado. Deitei na cama mas não podia fechar os olhos. Comida eu não podia nem imaginar. No máximo, líquidos.

Antes do horário de visitas, tomei um banho e coloquei uma roupa melhor. Não queria que ele ficasse preocupado por minha causa. Não podia chorar na sua frente. Tinha que estar bem. As meninas estavam sendo ainda cuidadas por amigas e assim continuou até segunda quando minha sogra chegou.

Quando entrei lá, o cobri e comecei a conversar com ele. Eu não podia alcançá-lo para dar um beijo. Na garganta um cateter, fios para monitorá-lo no peito, soros, curativos e etc. Ele ainda estava branco como papel mas já passara para a unidade semi-intensiva pois estava consciente. As notícias eram boas. Ele se mantivera estável, o braço respondia bem ao tratamento, não havia inchado e havia movimento nos dedos.

Voltei para casa. Continuava sem comer e sem dormir. Quando alguém tirava Helena de casa, eu me permitia chorar. Mal conseguia andar. Na frente dela, era só sorrisos. Para ela o papai estava viajando e logo voltaria.

Olhava as roupas dele pela casa e não conseguia guardá-las. Seu sapato estava no canto do quarto e não podia olhá-lo nem guardá-lo. Minha mente estava vazia. Eu não conseguia pensar em qual era o próximo passo. Graças a Deus que os amigos foram maravilhosos e cuidaram de tudo para mim.

No domingo de novo fiquei de manhã no hospital para ter notícias. Não encontrei com o cirurgião vascular. Liguei para ele e ele me disse que o Marlon estava tendo uma recuperação muito melhor do que o esperado e que por ele teria alta da UTI. Faltava a opinião do cirurgião de tórax.

De tarde, minha avó que não sabia de nada (e continua sem saber) me ligou e tive que fazer uma voz boa e dar risada com ela, brincar e dizer que todos estavam bem. Ainda estou estudando uma forma de contar para ela pois meus pais estão fora do país e não podem ir até lá.

No horário de visita ele já estava com uma cor muito melhor e eu comecei a ficar um pouco melhor também. Nesta noite eu consegui dormir da 01:30, às 5:00 e já levantei um pouco melhor.

Na segunda, me ligaram por volta do meio-dia dizendo que eu fosse ao hospital pois ele iria descer para o quarto. Fiz uma bolsa com algumas roupas para ele e saí correndo. Recepcionei ele, ajudei-o a se vestir e a partir daí é que minha cabeça começou a funcionar de novo, embora o trabalho tenha aumentado.

Só nesse dia é que consegui falar com minha mãe. Também nesse dia minha sogra chegou. A Flávia que já a conhecia foi buscá-la e a levou direto para o hospital.

A partir daí as coisas começaram a melhorar. A cada dia o Marlon parecia melhor e depois que tirou o dreno que estava no pulmão, parecia estar novo.

Sem o dreno, conseguimos colocar uma camisa nele e levei a Helena para vê-lo pois ele sentia muita falta dela e ela já não veria os ferimentos. Foi emocionante levar ela até lá e pensar que tinha sido por pouco que eu poderia nunca mais ver essa cena.

Ao final de uma semana, o médico deu alta e agora meu amor está conosco novamente.

Logo no primeiro dia a Helena saiu para brincar com a avó e o Marlon subiu para descansar. Quando ela voltou me olhou séria e perguntou para mim: "cadê o papai?" e eu "Está descansando". Ela ficou desconfiada e pediu para ir fazer bagunça com ele na cama. Eu falei para ela que ele não podia fazer bagunça mas que ela poderia subir para dar um beijo nele. Eu senti que ela estava com medo que ele tivesse ido embora de novo. Ela subiu, o viu e depois desceu e brincou o dia todo tranquila.


Marlon ainda sente dor mas já brinca com as filhas, faz as refeições conosco e dorme ao meu lado. O resto é resto.




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6 comentários:

Unknown disse...

OI Renata, que susto! Graças à Deus que ele está bem e de novo em casa! Passei por uma situação um pouco parecida, há pouco tempo, mas muito menos tensa: meu marido precisou fazer uma cirurgia de emergência que também foi bastante complicada e pensei de tudo enquanto ele estava fora do alcance dos meus olhos.
Desejo melhoras ao seu marido e que vcs tenham uma longa e feliz vida juntos. E depois desse dia das mães, a vida em família se torne ainda mais especial pra vocês.

Beijos e ótima semana.

Sofia disse...

Deus é grande amiga. Quase nunca deixo recadinho mas desta vez não podia passar por aqui sem dizer que estão nas minhas orações e que tenho a certeza de que tudo irá correr bem. Muita força. Ás vezes a vida prega-nos partidas mas nós temos de mostrar que somos mais fortes. Um grande beijo e as melhoras para o Marlon.
Não deixes de dar noticias.

Coisitas de Nami disse...

Nossa Renata, esse é aquele tipo de coisa que a gente pensa que só acontece com os outros. Eu também ficaria sem chão se passasse por uma situação dessas. Mas vc foi forte, conseguiu segurar sua dor para manter o bem estar das crianças, e agora graças a Deus está tudo voltando ao normal. Que vcs tenham uma vida muito longa cheia de saúde, felicidades e harmonia. Bjs.

Kikah disse...

Vcs são a prova de que DEUS É MARAVILHOSO!!

beijos.

Coutinho disse...

Emocionado...

Coutinho disse...

A luta e dedicação de todos aqui no trabalho para identificar e prender os assaltantes demonstra o quanto o Marlon é querido. Ontem, vários que estiveram na operação para prisão do atirador, quando retornaram, eufóricos, só sabiam dizer "Nossa, "foi muito bom, que sensação boa!!". E creio que para quem ficou por aqui, no aguardo, também foi uma sensação ótima ver o bandido preso e algemado.